segunda-feira, 9 de maio de 2011

A CONSTRUÇÃO DE UM CORPUS: O /S/ EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA

Gracione Teixeira de Sousa1
Lindinalva Messias do N. Chaves2




RESUMO


Neste trabalho, inserido no âmbito de nossa dissertação no Mestrado de Letras da Universidade Federal do Acre, temos como objetivo apresentar alguns critérios teórico-metodológicos referentes à construção do corpus a ser analisado na referida dissertação. Como a pesquisa está, por um lado, ancorada nos referenciais da Geolinguística, estreitamente ligada à Dialetologia, seguimos a metodologia do Atlas Linguístico do Brasil e adotamos várias questões dos questionários semifechados, elaborados pela equipe do ALiB; contudo, tais perguntas com as respostas não se revelaram suficientes para dar conta de todos os contextos linguísticos de ocorrência do /s/ em coda silábica, objeto específico de nosso estudo. Dessa forma, com base nos parâmetros da Fonética, haja vista que a análise específica ocorrerá no plano da Fonética Articulatória e da Fonética Acústica, complementamos os contextos lacunares. Além da previsão dos fatores linguísticos necessários para a análise dos segmentos em questão, como, por exemplo, a natureza sonora da consoante seguinte, que irá determinar o alofone realizado, atentamos para critérios advindos da Dialetologia e da Geolinguística, já citadas, de forma que o corpus possa ser representativo dos falares da região em que as entrevistas serão realizadas, a regional do Purus no Estado do Acre.  

PALAVRAS-CHAVE: Corpus, Fonética, /S/ pós-vocálico.


____________________________________________________________
1Aluna do Mestrado em Letras - Linguagem e Identidade da Universidade Federal do Acre-UFAC
2Professora doutora do Mestrado em Letras da Universidade Federal do Acre - UFAC


Considerações Iniciais

Sabe-se que um trabalho de pesquisa depende, em grande parte, do corpus examinado; nesse aspecto, equívocos ou lapsos cometidos em relação aos textos, orais ou escritos, em estudo, podem comprometer de forma significativa a qualidade dos resultados. Neste sentido, o presente estudo objetiva apresentar os critérios teórico-metodológicos de constituição de um corpus com contextos linguísticos específicos para as realizações do /s/ em posição de coda silábica, objeto de análise do projeto de dissertação a ser desenvolvida no Mestrado de Letras da Universidade Federal do Acre.  
No que se refere à conceituação de corpus linguístico, utilizamos as concepções de Cristal (2000) e de Zavaglia e Ferraresi (2006) e apresentamos alguns corpora constituídos no Brasil, no âmbito da Linguística e da Lingua Portuguesa como o NURC - Projeto de Estudos da Norma Linguística Urbana Culta, o PEUL - Programa de Estudos sobre o Uso da Língua, o VARSUL - Variação Linguística Urbana na Região Sul e o AliB - Atlas Linguístico do Brasil, enfatizando a constituição de cada um. Nesse aspecto, uma abordagem, ainda que breve e inicial, da Linguística de Corpus se faz naturalmente presente.
             Dessa forma, faremos algumas considerações sobre a construção de um corpus linguístico em linhas gerais e, em seguida, apresentaremos em duas partes a constituição do corpus linguístico que será objeto de estudo de nossa dissertação, intitulada Atlas Linguístico do Acre: Cartas Fonéticas e Realização do /s/ pós-vocálico na Região do Purus. Na primeira parte, serão utilizados os questionários fonético-fonológico e semântico-lexical do AliB para a elaboração das cartas fonéticas de três localidades dessa regional e, na segunda parte, apresentaremos o processo de elaboração de um questionário fonético específico, voltado para a obtenção do /s/ em contextos linguísticos pré-determinados, a saber: em posição final absoluta; no interior da palavra, diante de consoante sonora; no interior da palavra, diante de consoante surda; no final de palavra, diante de consoante sonora; no final da palavra diante de consoante surda e no final de palavra diante de vogal.          




1. Conceitos do item lexical corpus

De forma geral, corpus é um elemento definido como um conjunto de textos produzidos para fim de análises, tendo alguns autores se debruçado sobre esse assunto no que toca aos estudos linguísticos.
Segundo Cristal (2000, p. 70), corpus “é um conjunto de dados linguísticos, seja em textos escritos ou em uma transcrição de uma fala gravada, que pode ser usado como ponto de partida para uma descrição linguística ou uma maneira de verificar uma hipótese a respeito da língua”.
Zavaglia e Ferraresi (2006, p. 3) definem o item lexical corpus “[...] como sendo um conjunto de textos produzidos em uma determinada língua natural que caracteriza e reflete o uso sincrônico dessa língua em uma comunidade linguística, podendo variar entre o registro falado e o escrito.
Em outras palavras, um corpus linguístico é um conjunto de representação da lingua(gem) de um grupo de falantes, construído com o intuito de se realizar estudos sobre tais representações.

2. Linguística de Corpus


Ao se falar de corpus e corpora, não poderíamos deixar de mencionar a Linguística de corpus, originada na década de 60 com o corpus Brown e que, segundo Sardinha (2000),

ocupa-se da coleta e exploração de corpora, ou conjuntos de dados linguísticos textuais que foram coletados criteriosamente com o propósito de servirem para a pesquisa de uma língua ou variedade linguística. Como tal, dedica-se à exploração da linguagem através de evidências empíricas, extraídas por meio de computador.

Tal conceito se assemelha ao conceito dado por Tagnin, (2004), em que um corpus “é uma coletânea de textos em formato eletrônico, compilada segundo critérios específicos, considerada representativa de uma língua (ou parte que se pretende estudar), destinada à pesquisa”.


Diante desses conceitos, é possível afirmar que, para os estudiosos da área, o uso da tecnologia computacional é primordial, haja vista a informatização dos dados, facilitando o armazenamento e o acesso a esses arquivos; isso tem gerado um número maior de corpora, que “vêm sendo utilizados como grandes registros de língua falada e escrita” (RIBEIRO, 2004, p. 162).
 Segundo os estudos de Sardinha, (2000), já existia corpora antes do computador. A saber, o sentido primeiro do termo ‘corpus’ é ‘corpo’, “um conjunto de documentos”, o que não vem a ser um conceito moderno, considerando-se que os povos mais antigos, como na idade média, já elaboravam corpora de documentos bíblicos. Conforme lembra o autor, esses corpora não eram eletrônicos, como na atualidade, e sim coletados manualmente. Sardinha afirma ainda que apesar de no passado, a partir do século XX, muitos pesquisadores tenham se interessado por estudos da linguagem com o uso de corpora, a ênfase era quase sempre no ensino de línguas, diferentemente de hoje, quando se enfatiza a descrição da linguagem, com recente interesse pelo uso de cunho pedagógico.
É certo que, depois do corpus Brown, muitos outros corpora já foram criados, tanto na língua inglesa, como na portuguesa, e, para conhecê-los, basta nos debruçarmos sobre toda a história da Linguística de corpus; no entanto, neste momento, o que nos interessa realmente é apresentar esta área de conhecimento e dizer que nos dias atuais esta tem sido de grande relevância para os estudos sobre a linguagem e para várias pesquisas linguísticas, de âmbitos diversos, visto que o corpus continua a ser a fonte mais utilizada para os estudos da linguagem.

3. Alguns corpus constituídos no Brasil (no âmbito da Linguística e da Língua Portuguesa): NURC, PEUL, VARSUL e ALIB

            Conforme CUNHA (2006), o período de 70 a 90 no Brasil deu origem a grandes corpora embasados na sociolinguística, como o NURC, O PEUL e o VARSUL, sobre os quais faremos um breve apanhado.
            O NURC – Projeto de estudos da Norma Linguística Urbana Culta, instaurado em 1969 em São Paulo, no III Instituto Interamericano de Linguística, recobre cinco localidades: Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. O corpus foi constituído por inquéritos diretos e indiretos de 600 informantes nascidos na localidade e que tinham a Língua Portuguesa como língua materna, considerando ainda o gênero (masculino e feminino), a faixa etária (25 a 35 anos; 36 a 55 anos; acima de 56 anos), e a escolaridade (nível superior).
            Quanto ao projeto PEUL, Programa de Estudos sobre Uso da Língua, é um grupo de pesquisa em que atuam professores de diferentes correntes teóricas da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Universidade Federal Fluminense -UFF e Universidade Nacional de Brasília - UNB. O foco da pesquisa é a variação e a mudança linguística no contexto social, ancorada pelos pressupostos da geolinguística quantitativa. O corpus, também chamado de corpus censo, comporta 48 horas de gravação de 64 falantes, (SILVA, 1996a apud PAIVA; SCHERRE, 1999) e foi construído a partir de discurso monitorado semi-informal, considerando as variáveis convencionais como sexo, idade e escolaridade. O projeto centra considerações em fatores internos e externos da linguagem com o objetivo de validar estudos linguísticos em suas diferentes representações (PAIVA; SCHERRE, 1999).
            O VARSUL – Variação Linguística Urbana na Região Sul, trabalha com a representação da fala das áreas urbanas de três localidades: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O grupo é composto por pesquisadores das universidades federais dos estados mencionados e pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O corpus VARSUL é constituído por 228 entrevistas, coletadas em doze cidades, sendo um número de quatro por localidade (CUNHA, 2006). Inspirados pelo projeto PEUL, as pesquisas foram realizadas com base nos princípios metodológicos da sociolinguística laboviana. Quanto às variáveis sociais, foram utilizadas as convencionais, idade, sexo, escolaridade. Além das variáveis convencionais, outros fatores foram considerados como a inserção do falante no mercado ocupacional, o grau de exposição à mídia e a sensibilidade lingüística. (PAIVA; SCHERRE, 1999).  O projeto VARSUL objetivava obter um banco de dados que representasse a diversidade linguística das localidades da amostra e, sobretudo “subsidiar a descrição do português falado no país”.
            O projeto ALIB, que em especial nos interessa, se originou por empreendimento de uma equipe de pesquisadores em Dialetologia da Bahia, e teve início em 1996. O comitê Nacional do ALiB conta com estudiosos de várias instituições: Universidade Federal da Bahia – UFBA; Universidade Federal da Paraíba – UFPB; Universidade Federal do Ceará – UFC; Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF; Universidade Estadual de Londrina - UEL, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRS, Universidade Federal do Mato Grosso - UFMS e Universidade Federal do Pará - UFPA. O ALiB pretende documentar todo o Brasil, definido por 250 pontos de inquéritos, com 1.100 informantes, 8 nas capitais e 4 nas demais localidades. O projeto está ancorado por uma metodologia fundamentada nos pressupostos da Geolinguística pluridimensional, que se utiliza dos parâmetros diatópicos, acrescidos da variação diagenérica, diageracional e outras (MOTA, 2006, p.20, 22, 29). O corpus se constitui(rá) de dados obtidos por meio de três questionários: Questionário fonético-fonológico – QFF, com 159 perguntas; Questionário semântico-lexical – QSL, com 202 perguntas, e Questionário morfossintático – QSM, com 49 perguntas. Há, ainda, questões de pragmática (QP) e perguntas de ordem metalinguística (PM) (MOTA, 2009, p.14). Os questionários serão aplicados a “informantes naturais da localidade investigada, não tendo se afastado dela por mais de 1/3 de sua vida”, sendo a escolha desse informante feita a partir de variáveis como: idade, de 18 a 30 e de 50 a 65 anos; gênero, masculino e feminino; e escolaridade, alfabetizados, a princípio tendo cursado até a 4ª série com flexibilização até a 8ª série). (CASTRO, 2009, p. 349).
            Com rigor e dedicadas pesquisas, o projeto ALiB objetiva, além de descrever a realidade linguística do Brasil com vistas a  traçar uma divisão dialetal, constituir uma base de dados significativa para estudos sobre a lingua portuguesa (Comitê Nacional do ALiB, 2001).

4. A constituição de um corpus linguístico em linhas gerais
            Tomando por base os critérios da Geolinguística, tal como nos corpora aqui mencionados, em especial o ALiB, anotamos aqui algumas preocupações, já que de acordo com  BIDERMAN (2001 apud ZAVAGLIA; FERRARESI, 2006): “[...] Quando se projeta um corpus visa se extrair de sua observação generalizações sobre a língua”. Neste sentido, o pesquisador deve atentar para todos os elementos necessários à abordagem que irá empregar, seja no âmbito da Fonética, da Sociolinguística, da Dialetologia ou de qualquer outra área do conhecimento.
Com efeito, os elementos para a constituição de um corpus linguístico irão depender, em grande parte, da metodologia adotada e do objeto que se pretende especificamente estudar, no entanto, existem alguns pontos que são relevantes a toda pesquisa, como por exemplo: Se não é um corpus constituído, como o pesquisador irá obter esses dados? Qual a metodologia utilizada para a aquisição e análise desses dados? Se optar por uso de questionários, sejam eles diretos ou indiretos, ou ainda entrevistas livres, que contextos deverão contemplar as perguntas ou as temáticas?
Segundo Corrêa (1998), “o levantamento de fatores condicionadores é uma das etapas mais importante do método, especialmente porque é o passo que revela as correlações entre as variáveis e o meio externo. Postular fatores que estejam implicando a escolha de determinado som em detrimento de outro”. Os fatores condicionadores são subdivididos em dois grupos: linguísticos e extralinguísticos. Ainda como anota Corrêa (1998), os fatores linguísticos são aqueles que estão embutidos na própria língua, como ambiente fonológico precedente e subsequente, tonicidade da sílaba, classificação lexical da palavra e outros, enquanto os fatores extralinguísticos ou sociais são aqueles ligados à situação da fala e ao perfil do informante.
            Como anota Aguilera, “toda pesquisa de campo, em especial as da área da geolinguística, exige que os procedimentos sejam bem definidos e se ajustem adequadamente tanto aos objetivos a serem alcançados como ao contexto social em que o pesquisador irá atuar” (AGUILERA, 2007. p. 2929).
           

5. Construindo um Corpus: Questionário Fonético Específico para análise do /s/ em posição de coda silábica

Este estudo, elaborado a partir da orientação metodológica do ALiB, por conseguinte da Geolinguística, está dividido em duas partes: na primeira, temos como objetivo elaborar as cartas fonéticas da Regional do Purus, realizando gravações em 3 localidades, Sena Madureira, Manoel Urbano, Santa Rosa. Nesta primeira parte, não haverá problemas quanto à constituição do corpus visto que serão aplicados os questionários do ALiB, que são adotados por grande número de atlas regionais.
Na segunda parte do trabalho, temos por objetivo analisar, por meio de metodologias modernas da Fonética, as realizações do /s/ em posição de coda silábica na fala dos mesmos informantes da primeira etapa. Para isso, estamos elaborando um questionário específico cujas respostas contenham todos os dados que nos interessam. Isso decorre do fato do Questionário Fonético-Fonológico do ALiB estar voltado para os aspectos fonéticos da língua portuguesa em geral, sem se deter em nenhum em particular.
O questionário, do tipo pergunta/resposta, que denominamos Questionário Fonético - Especifico (QFE), contém 40 perguntas, elaboradas cuidadosamente para obter nas respostas dos informantes palavras contendo o /s/ pós-vocálico nas seguintes posições, já elencadas na introdução a este trabalho: no interior da palavra, diante de consoante surda; no interior da palavra diante de consoante sonora; em final de palavra diante de consoante surda; em final de palavra diante de consoante sonora; em posição final absoluta; em posição intervocálica. Além das perguntas, serão utilizadas gravuras em alguns casos, com a finalidade de tornar claro o referente e garantir respostas mais rápidas e mais seguras. (MOTA, 2008). 
O corpus, conforme já foi dito, será coletado na Região do Purus onde serão entrevistados 12 informantes, 4 por local, considerando-se os fatores sociais idade, gênero e escolaridade. Conforme os pressupostos da Geolinguística, os informantes serão moradores nascidos na localidade da pesquisa, assim como seus pais, não tendo se afastado por mais de 1/3 de suas vidas da localidade pesquisada. Quanto ao perfil integral do informante, e aos demais fatores sociais, estes seguem os parâmetros do AliB.
            O questionário será aplicado pela própria pesquisadora na localidade concernente ao informante, atentando para que todos os parâmetros, tanto da Geolinguística quanto da Fonética Instrumental, sejam respeitados. Assim, além dos fatores linguísticos e sociais mencionados, há que se obter gravações de boa qualidade para que se prestem a análises da fala por meio de programa computadorizado.

O corpus, ainda em construção, está definido da seguinte forma:


Palavras que contemplem o /s/ nos seguintes contextos.
 Em posição final absoluta
No interior da palavra, diante de consoante sonora: b, d, g, v, l, m, n, R

No interior da palavra, diante de consoante surda: p, t, k, f, s, S

No final de palavra, diante de consoante sonora: b, d, g, v, z, Z, l, m, n, R

No final de palavra diante de consoante surda: p t k f s S
No final de palavra diante de vogal
arroz
Esbelto
caspa
duas bolas
três panelas
casas amarelas
duas bolas
transborda/
transbordou
costas
arroz doce
meus pêsames
dois olhos
três gatos
Desdentado
casca
três gatos
duas tesouras
quem fez isso

Rasgar
sforo
duas vacas
nas costas
cheiro nas axilas

Desvio
nascer(do sol)
duas zebras
dentes caninos
ônibus urbano

Desleal

três janelas
duas folhas
Ônibus interurbano

Desligado

seis laranjas
duas saias


Desmaio

filho mais moço
três chaves


Desnatado

duas noras



Desregrado

duas rodas




           
Apresentamos ainda, alguns exemplos de perguntas, conforme cada contexto apresentado. Vale ressaltar que algumas perguntas das que compõem o QFE são retiradas do QFF e QSL do AliB por conterem os contextos específicos a serem analisados. Nesses casos, no trabalho final, a identificação será feita como nos exemplos 1 e 13 da amostra.
 
1.  ARROZ ( perg. 21, QFF )
... o que se come no almoço, uns grãozinhos brancos que podem acompanhar o feijão, a carne?

8. DESLIGADO
Qual é o contrário de ligado?

13. CASPA ( perg. 124, QFF )
 ... uma coisinha branca que dá na cabeça da pessoa?

26. DUAS RODAS
Mostramos uma gravura de um carro e digo: um carro tem quatro... e apontamos para as rodas. Depois mostramos a gravura de uma bicicleta e perguntamos: e numa bicicleta são...?

28. MEUS PÊSAMES
Quando vamos a um velório, como é que cumprimentamos os familiares do falecido? Se o informante responder com outras expressões como sinto muito, meus sentimentos, etc, podemos perguntar se existe outra forma expressão.

37. DOIS OLHOS
Todo ser humano tem partes do corpo que são em número de dois. Temos duas pernas, dois braços, dois pés, duas orelhas e...? Apontar para as partes do corpo.
   

            Como se vê, são perguntas simples, sem privilégio por nenhum grupo lexical ou semântico, haja vista a análise a ser realizada ser de cunho fonético e necessitar apenas dos contextos linguísticos apresentados. Há que se ressaltar, ainda, a necessidade de simplificação de perguntas e respostas no intuito de se evitar constrangimentos ou dificuldades para os informantes, em atendimento aos critérios das pesquisas de campo em geral e aos da Geolinguística em particular, conforme já mencionado por Aguilera, anteriormente citada.



Considerações Finais

Do exposto, parece-nos ter ficado claro que os instrumentos de coleta devem ser bem elaborados de acordo com os critérios metodológicos estabelecidos já que eles serão os documentos garantidores das reflexões ou das respostas que se pretende encontrar a respeito do elemento linguístico elencado para estudo. Nesse aspecto, o suporte tecnológico da Linguística de Corpus constitui-se em elemento de grande utilidade.
No que se refere à dificuldade da constituição de um corpus, Fillmore (1992 apud Sardinha, 2000) escreveu: “não há nenhum corpus que contenha toda a informação que eu quero explorar’, mas mesmo assim ‘todo corpus me ensinou coisas sobre a linguagem que eu não teria descoberto de nenhum outro modo”. É o mesmo pensamento de Rossi (apud AGUILERA, 2007, p. 2938)   que se expressou da seguinte forma:

Se as cartas não apresentam a nitidez de limites que seria desejável, nem sempre nos cabe a responsabilidade. As razões de serem aquelas e não outras (quem saberia quais?) as perguntas formuladas; de sermos nós e não outros os inquiridores; de serem aqueles e não outros os informantes; de serem as que foram e não outras ( quem poderia dizer quais ?)  as localidades escolhidas; de termos dedicado apenas o tempo que dedicamos a cada inquérito, se não estamos enganados deve muitas vezes somar-se a própria natureza do tecido emaranhado que se procura deslindar. (ROSSI, 1965, p. 50).


De nossa parte, consideramos que todo corpus nunca estará completamente terminado, lacunas sempre existirão e isso decorre, entre outros fatores, do próprio caráter de mutabilidade da língua. Trata-se, por conseguinte, de processo permanente de construção.






REFERÊNCIAS


AGUILERA, V. A. O ideal e o real na pesquisa geolinguística: caminhos. 2007, Ileel, 2007. v. 1. p. 2929-2939. Disponível em: http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_023.pdf  Acesso em: 02.10.2009

BEBER SARDINHA, T. Linguística de Corpus: histórico e problemática. DELTA, 2000, vol.16, nº.2, p. 323-367. Disponível em: http://.scielo.br/scielo.php?script=iso Acesso em: 02/09/2009

CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Iniciação à fonética e à fonologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.

COMITÊ NACIONAL. Atlas Linguístico do Brasil. Questionários. Londrina: Ed. UEL, 2001.

CORRÊA, Cíntia da Costa. Focalização Dialetal em Brasília: Um Estudo da Vogais Pretônicas e do /s/ Pós-Vocálico. Dissertação de mestrado. Brasília: UFPA, 1998.

CRISTAL, D. Dicionário de linguística e fonética. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

CUNHA, Cláudia de Souza. A importância da organização de uma base de dados para Pesquisas atuais e futuras. 2005. Disponível em: http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-estudos-2006/sistema06/784.pdf Acesso em: 07 out. 2009.

KAMI, J. G. S.; AGUILERA, V. A. Para um Atlas Linguístico do Brasil: A construção dos Questionários. Estudos Linguísticos. São Paulo: Universidade de Taubaté, v.1, n. 1 p. 1-6, 2003. Disponível em: http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/32/htm/comunica/ci118.htm.  Acesso em: 05 out. 2009

MOTA, Jacyra Andrade. A metodologia na pesquisa Geolinguística: o questionário fonético-fonológico. Revista Prolíngua, João Pessoa, v.1, n.2, dez. 2008. Disponível em: http://www.revistaprolingua.com.br/category/edicao-atual/. Acesso em 25 out.  2009.
_____________ . A construção da pesquisa: rede de pontos, questionários, informantes, técnicas de realização de inquéritos. In: XV Congreso Internacional de la Asociación de Linguística y Filología de América Latina, 2008, Montevidéu. XV Congreso Internacional de la Asociación de Linguística y Filología de América Latina. Montevidéu: ALFAL, 2008. p. 01-11. Disponível em: http://www.mundoalfal.org/ALIB.htm. Acesso em: 09.out  2009

PAIVA, M. C. de; SCHERRE, M. M. P. Retrospectiva sociolinguística: contribuições do PEUL. 1999 DELTA, 15 Especial: 201-232. Disponível em:
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext. Acesso em: 05. out.2009


RIBEIRO, G. C. B. Tradução Técnica, Terminologia E Lingüística de Corpus: A Ferramenta Wordsmith Tools. 2004. CAD. DETRADUÇÃO
Vol. 2, No 14. Disponível em: http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/viewFile/6479/5974. Acesso em: 17 out.2009

TAGNIN, Stella. Corpora: o que são e para que servem. 2004. Disponível em: http://www.fflch.usp.brldlmlcometl/ Acesso em: 05 out. 2009

ZAVAGLIA C.; FERRARESI, Monique Lopes. Construção de um Corpus Paralelo e Alinhado Português-italiano-portugues Para o domínio Literário. Estudos Linguísticos. São Paulo, v. 1 p.502-511, 2006. Disponível em: www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/.../217.pdf. Acesso em: 08 out. 2009.



Nenhum comentário:

Postar um comentário